quinta-feira, abril 07, 2005

Três breves histórias sobre o amor

Alfredo Matias era um pobre coitado. Bem mais coitado que pobre, aliás.
Era amante, mas não amado. E isso transformara sua vida brutalmente.
Depois de perceber o amor que sentia por sua amada, decidiu se entregar. Não a ela, mas ao mar.
E havia tanto mar, quando se deixou levar, que nunca mais foi visto o brilho que tivera um dia em seu olhar.
Alguns amigos comentaram da falta que sentiam dos olhos de Alfredo Matias. Mal sabiam eles que o olhar morrera antes do pulmão se encher de água salgada. Bem antes de Alfredo entrar na imensidão do mar.
Não havia brilho nos olhos de Alfredo desde o dia em que descobriu amar.

- x -

Dininha corria ao vento, segurando a barra de seu vestido. Adorava correr e sentir o vento balançar seus cabelos lisos, loiros.
Só assim sentia-se livre.
Havia caído de paixão por Luís, dias antes dessa tarde de sol. Mas não sabia que ele a admirava já há bastante tempo.
E Luís, por ser tímido e não gostar do vento nos seus cabelos crespos, não saiu da cama enquanto Dininha balançava o vestido pela rua, em frente à sua casa.
Percebeu o admirável balé da garota, que parecia flutuar sobre nuvens, através da janela do quarto. Mas não sabia que ela havia caído de paixão por ele dias antes. Ficou no quarto, vendo-a através do vidro que o mantinha protegido do vento, enquanto caía a tarde com um pôr-do-sol inexplicável.

- x -

Fabiana e Fabiano eram um casal improvável. Começando pela coincidência dos nomes. Ninguém conhecia outros dois que se amassem com nomes assim, tão parecidos.
As semelhanças extrapolavam a identidade: tinham nascido no mesmo dia, escolheram a mesma profissão e, fisicamente, até se pareciam um com o outro.
E amavam-se, contra todas as expectativas. Dizem que os opostos se atraem, mas Fabiano e Fabiana eram a prova viva de que semelhantes podem às vezes se amar. E dar certo.
- Fabiano, eu te amo.
- Também te amo, Fabiana.
Eles, sim, viveram felizes para sempre.