terça-feira, dezembro 28, 2004

A máquina e a mente

Poucas coisas nessa minha vida agitada me irritam tanto quanto o computador daqui de casa. A lentidão desta máquina chega a me tirar do sério até nos meus mais felizes dias. E eu volto a não ter mais paciência para atividades via computador - quaisquer que sejam.
Porque tenho que esperar um bom tempo para a tal máquina ser iniciada. E, com uma lentidão ímpar, clicar suave e pacientemente no ícone da internet, esperar mais um pouco, escolher a página a ser acessada...
Pronto?
Não. Agora que começa a grande jornada, o verdadeiro teste de paciência. Demora a página a abrir e, quando abre (se abre), nunca aparece como deveria. Desconfigurada é o mínimo que eu posso esperar. Minha assiduidade por aqui está comprometida pela incompetência do meu exímio computador. ("Vai logo, droga!")
Nem se eu fosse Jó. Ou zen.


Outra coisa que também não me deixa lá muito contente são aquelas músicas que insistem em nos povoar as mentes, mesmo que tenhamos muito mais sobre o que pensar.
A música que hoje não me sai da cabeça:
"O seu estrelismo está ofuscando a minha mente
O seu queremismo QUEBROU MINHA CONTA CORRENTE
Deixe que eu fiquei só
Tudo vira pó, vira pó"
Resquício de um fim de semana; culpa de um certo rádio outonal.
Resquício que ofusca meus pensamentos e atrapalha minha paz.
Descontem o exagero habitual.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Tanta confusão é pouco

O problema aqui é que, quando eu penso que acabei de arrumar a mala, vejo em um lugar óbvio mais um monte de coisas pra levar. Um monte! E na mala, ressalte-se, já não cabe nem pensamento.
E agora?, me pergunto. E agora?
Mãe, a mala não quer (e não vai) fechar.
Ainda falta empacotar e cobrir alguns móveis. Jogar um monte de lixo no lixo. Já pus o remédio contra baratas, separei a passagem e os documentos, os CD's e livros. Mas vou esquecer alguma coisa.
Já sei que tenho de fechar todas as janelas, torneiras, NÃO DEIXAR O FERRO LIGADO e trancar bem a porta - se possível, de um jeito que nem eu mesmo consiga entrar, quando perceber que esqueci de pôr os óculos na mochila.
Fecha a cortina, cobre o computador, arrasta o sofá, lava a louça (pela, ufa, última vez).
Saio às 13:25, chego às 15:15, amanhã... Amanhã. Que venham o Natal e a festa de fim-de-ano. Família, amigos, casa. Enfim, chego em Recife, pra ver como é que está tudo, como tudo está. E sei que quando vir meu quarto, vou dizer a Bianca que ela o virou de ponta-cabeça. Nem pense que vai conseguir dormir nele em troca de uma partida de gamão. Não pense... E não venha com papo de que está com saudade e que não vai conseguir dormir só. Nem venha. Porque, se vier, é provável que eu permita.
Mãe, vou deixar um monte de meias. A gente compra mais, né? Tenho mesmo que fazer umas compras - mas o shopping deve estar um inferno.
Ih, que confusão! Minha cabeça está um turbilhão de pensamentos, não pára. Por isso dói. Tome um Tylenol, meu filho, disse mainha. Mas não iria adiantar. Quando eu dormir passa. Sempre passa.
Vou dormir pouco, que é pra ter tempo de fazer as muitas coisas que só podem ser feitas por útlimo, em cima da hora. Cochilo na desconfortável poltrona do avião que é melhor, mais garantido.

Que seja, oras, eu estou voltando pra casa. É isso que importa.
Me aguardem, conterrâneos.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Os garotos da Agamenon

É noite quente recifense. Nada de novo.
Na avenida movimentada, agora iluminada com os enfeites de Natal, milhares de carros fazem seus percursos habituais. As luzes coloridas escondem o canal que de fétida água se preenche.
Canal imundo, de águas turvas, cujo fedor provoca engulhos e ânsias de vômito em quem passa por perto. E onde mergulham os garotos de rua semi-nus, em grupos, em podridão. Embrulham-se os estômagos e arrepiam-se as espinhas de quem vê, na madrugada colorida, as crianças inocentes que conhecem o Recife sujo, o Recife imundo.
Jogam-se na água os garotos e dela saem mais pretos que suas origens, mais miseráveis que suas famílias. Sob o som ritmado do trânsito, no compasso das buzinas, gritam, sorriem, brincam... E embelezam-se de uma estranha, inexplicável e única felicidade.
No seu Recife, tanto dores quanto cores, sabores. Mas a alegria está nos poucos momentos de diversão com os iguais. Quando se espanta a solidão e se esquece a realidade.
E o fluxo da avenida parece não se importar. Ninguém os vê, mas todos sentem o cheiro pútrido que exalam as águas e os garotos inocentes que se banham no canal podre da Agamenon Magalhães.

Texto produzido forçosamente, sob pressão do professor de Teoria da Percepção, em que se deveria explorar sentimentos de asco ou prazer. E tirei ascos de um grande prazer - andar pelo Recife. Boa Viagem-Olinda...
Eram antes versos chulos. Viraram prosa para esconder a minha incapacidade com o formato poético.

sábado, dezembro 18, 2004

Enfim, férias

Quase nem acredito que, depois de tanto tempo, tantas aulas, tantos professores, finalmente chegou o momento do descanso.
Nem lembro quando eu tive férias pela última vez!
Mas não, não posso descansar agora - ainda tem um punhado de coisas a fazer. Além de arrumar a mala e ajeitar a casa, tenho que encontrar a chave extra, esvaziar a geladeira, separar livros e CD's e - porque nem tudo é perfeito - fazer uma prova pra entregar, se possível, na próxima quarta-feira.
Pelo menos aula eu não tenho. Não até março.
Ufa...

quinta-feira, dezembro 16, 2004

"Estilo praia"

Sábio era eu nos meus conselhos à minha irmã. Dizia que a presença dela era muito marcante, sempre. Mas nas aulas ela deveria procurar não chamar a atenção dos professores. É... "faça o que eu digo...".

Algumas semanas atrás, a professora de português foi reclamar do barulho no fundo da sala, quando todos deveriam estar fazendo o exercício.
- Vocês aí... que confusão é essa?
- Nada não, professora. Foi só uma discussão momentânea.
- Você, nem me fale. Vem pra aula vestido de praia!
- Que é isso, professora? Fiquei até ofendido.
- Mas não fique, você é muito elegante.
- Ah, não, professora, não cola mais! Que horror... E olhe só o calor que está fazendo!
- (...) - olha pra meus companheiros de conversa - Façam a tarefa.
- Eu já acabei, professora. Venho de praia, mas faço as coisas, viu? *

E, nessa semana, a mesma professora dá o resultado da turma. De um por um.
Quem tivesse feito as duas redações que ela passara ganharia meio ponto na média.
- Bruno tá aí?
- Aqui!
- Bruno... tenho que confessar. Fiquei impressionada com o seu resultado. Porque não acho você um aluno bom.
- Que é isso, professora? Só porque eu venho de praia pra aula? Ah, não...
- Não, não é por causa do seu estilo praia, mas você conversa muito. Pelas suas notas, se você continuar assim, vai fazer um curso brilhante, de alta qualidade.
- Hum...
- Veja só. Você tirou 10, 9.5 e 9.5. Sua média ficou 9.6. Mas você não me entregou uma das redações, então não vou aumentar sua média e pronto! Vai ficar isso mesmo!
- Ah, poxa...
Pior que eu acho que fiz as duas redações. Mas... tá de bom tamanho.
Meu deslize foi chamar atenção com minha moda praia-fluminense. Ela diz que não, mas eu sei que foi. Lógico que ir de tênis para as aulas dela não iria fazê-la me dar meio ponto, mas ela teria outra impressão.
Agora já foi... já foi.



* Inevitável lembrar da minha inesquecível professora de matemática da sexta série. Eu sempre acabava os exercícios e ia ajudar alguém que estivesse perto, mas ela ficava indignada, a reclamar dos meus passeios durante a aula. Aprendi muito com Marione... velha Marione...
Mas minha companheira de discussões era Thalê. Desde lá, já éramos um só. E ocupávamos, só nós dois, uma fila inteira, no fundo da sala. Velha sexta série... e Thalê continua a mesma!

quarta-feira, dezembro 15, 2004

O neto

Escondia-se no quarto enquanto a avó chamava seu nome. Estavam os dois em casa porque lá seus pais o deixaram antes de viajarem. Já fazia três dias.
Resolveu sair. Não queria passar outra noite com a avó, que nada interessante gostava de fazer. Só assistia a novelas e jornal na televisão, costurava calmamente e passava parte da noite lavando os pratos do jantar.
E ele só queria voltar para sua casa - sentia uma sincera saudade do seu videogame.
Saiu do esconderijo e cruzou o jardim até ver-se do doutro lado do portão. A rua estava iluminada pelos poucos postes e pela lua cheia; já não havia nenhum amigo para brincar àquela hora.
Sentou-se no meio-fio e começou a planejar como voltaria para casa. Nem tinha idéia do quão distante estava de lá.
Depois de um certo tempo e muitos frustrados pensamentos, a rua começou a escurecer preocupantemente (mesmo estando os mesmos postes acesos) e o brilho da lua parecia-lhe agora mais sombrio que belo. Sentiu fome.
Ouvia de longe a avó chamá-lo pelo nome.
Levantou-se, enfim, da calçada e fez o caminho de volta. Na sala, encontra a doce velhinha, que vem depressa beijar-lhe a testa, abraçando seu corpo até quase sufocá-lo. Percebeu que nos ternos e profundos olhos dela havia lágrimas que os inundavam.
E com a voz doce disse-lhe que ficara preocupada e iriam à praia logo cedo na manhã seguinte. Inconscientemente, retribuiu o abraço da avó e deixou o corpo amolecer.
Comeram cuscuz e macaxeira, joagaram uma partida de gamão (até ganhara duas vezes, mas a avó tinha uma inacreditável sorte nos dados) e ele assistiu ao primeiro capítulo de novela de que gostara - foi o único.
Dormiram na mesma cama grande, de casal, e ele sentiu remorso por ter pensado em fugir. Aconchegou-se nos lençóis, feliz por sentir o cheiro quente da avó.
Percebeu que era a sua vista que agora se embaçava com lágrimas. Até que dormiu.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Desejo

Sabe o que eu queria?
Dormir agora e só acordar no sábado. Mas eu teria que ter um clone meu que fizesse os muitos trabalhos que preciso fazer.
E o clone teria que ser inteligente o bastante para me fazer passar por média.
Complicado, né?
O negócio é ir à luta e batalhar para acabar as aulas ainda na próxima semana.

domingo, dezembro 05, 2004

Depois do banco

Sentada no banco da praça, ouvindo o mar bater suavemente nos arrecifes, percebe de súbito a presença de um rapaz da sua idade, sentado ali mesmo, ao seu lado. Calmo, lendo seu jornal cheio de notícias intrigantes, vira os olhos para ela timidamente. Instantes depois estavam a comentar as belezas do mar e da cidade.

Apenas reecontraram-se 15 anos depois - ela ainda de luto pelo seu recém-falecido marido, ele buscando a filha mais nova na escola. Cruzaram-se, olharam-se, mas jamais se reconheceram.
E passaram a vida se perguntando por onde andaria o outro.

Não era a casa

Eu hoje sonhei com a festa dos ex-alunos. Mas era a minha festa dos ex-alunos, do meu jeito, com meus convidados... Cá entre nós, por isso mesmo, nem estava tão boa assim! Aí o sonho mudou. Comecei a criar outra historinha, outros momentos, outra vida, de que não me recordo.
Só sei que acordei com uma grande decepção.
Abri os olhos e não acreditei que estava neste quarto. Esperava ouvir o barulhinho de passos no corredor e algumas batidas na porta: "Tá na mesa, Buti. Levanta!"
Mas não havia batidas na porta, nem almoço na mesa, nem família em casa... Porque não esperava acordar na mesma casa.
E pensei por uns tempos na saudade que me condena a devaneios nostálgicos. Na boa saudade, prestes a ser morta fria e calculadamente. Chega o dia cada vez mais... Passa a hora, passa o dia, passam as semanas. E chega o dia cada vez mais.
Vão bater em minha porta avisando do almoço, que vai esfriar se não me levantar logo. E beijar de bom-dia cada rosto, comer sobremesa, passear numa tarde de domindo, fazer visitas e voltar pra casa, jogar gamão, talvez um filme à noite. Comer queijo assado, tomar milk-shake e beijar de boa-noite os mesmos rostos...
Dormir e acordar na mesma casa - sempre.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

sobre não ter o quê

Acho que ajudou...
Não sabia o que escrever aqui, pois ando meio sem assunto. E resolvi pôr um poema do Drummond pra me expressar como gostaria.
Porque é clássico escrever sobre a falta de inspiração, sobre não ter o que escrever. Mas isso é coisa para gênio e, por isso, me isentei dessa árdua tarefa para citar aquele que acho ser um grande poeta brasileiro.
E acho que ajudou.
Porque, antes, nem poucas linhas conseguiria eu escrever. Agora já passo de algumas poucas e começo a cruzar o limite de "umas palavras" em direção a "um textinho".
Se vai fazer algum sentido, é outro problema que, aliás, nem quero solucionar. Preocupo-me mais, agora, com o escrever que com o objeto de escrita.
Ajudou.
Minha pena agora escreve sozinha, desliza sobre o papel e manda em minha mão direita, faz círculos e desenhos lógicos, que, magicamente, transformam-se em palavras. Mas nada disso é verdade, porque pena nunca usei e escrevo agora da maneira mais desumana que o humano já inventou: empurro meus dedos contra botões de plásticos pintados e marcados para reproduzir numa tela minhas (não-)idéias.
Estão cá dentro devaneios que insistem em sair e não conseguem. Mas esse momento, a poesia que o envolve, inunda minha vida inteira.
Ajudou?

Que o diga Drummond

Poesia
(Carlos Drummond de Andrade)

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.