domingo, junho 26, 2005

Ninguém merece, mas resiste

Que ninguém merece aula de francês nas manhãs de sábado, todo mundo já sabe. Principalmente se ninguém tiver amigos que adoram sair sexta à noite e ficar bombando pelos bares e casas fluminenses.
Ninguém percebeu que sente falta de alguém que o acorde na hora certa de sair de casa para ir à aula... É muito difícil levantar-se da cama quente e enfrentar uns 300 metros matutinos a pé em busca da língua francesa.
Ninguém faltou a uma aula para se divertir no Rio de Janeiro.
Ninguém tem programação para a próxima sexta-feira, véspera da prova de francês.

C'est très facile.

segunda-feira, junho 20, 2005

Ô boca!

Foi só falar da chuva, que Niterói foi presenteada com um pezão d'água bem no meio da tarde.
E eu, desprevenido como sempre, cheguei em casa mais parecendo um pinto molhado. De óculos!

domingo, junho 19, 2005

Da chuva

Estranhamente senti hoje uma enorme saudade das chuvas recifenses.
E consegui visualizar-me no banco traseiro do carro, voltando do aeroporto tarde da noite, com o barulho da chuva na capota, contando as mil novidades para meus pais... enquanto minha irmã reclamava do meu sotaque.
No som, tocava nightswimming.
Mal podia esperar para ver como estava a minha casa.

Agora até falta pouco.

sexta-feira, junho 17, 2005

Possibilidades

O que você vai querer fazer hoje?
Pouco me importa, na real, já que estamos tão longe um do outro. Você costuma me dizer que eu preciso falar mais, me abrir com mais freqüência e ser menos temeroso com possíveis conseqüências. Você quer mesmo que eu pense menos.
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É bem verdade que até dá pra esquecer que existimos um dia, mas o que eu ganharia com isso? Passar uma borracha nas poucas boas lembranças que nos restam não me parece lá uma idéia muito sensata. Deixa que de mim, cuido eu. Ainda sei o que me faz bem.
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Eu poderia apostar que você sugeriria um cinema. Um filme bem bobo, que tivesse intervalos preenchidos com beijos apaixonados. Pena que tantas distâncias assim nos separam. E você não me liga mais, não me pede pra assistir a filmes bobos, não fecha os olhos à espera dos meus beijos. Agora tanto faz.
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O problema são as distâncias. Todas elas. E as faltas que me trazem.
Se eu pensasse menos, doeria menos lembrar de tudo. Faria menos falta a tua presença. E nessa solidão, haveria lhões de outras presenças, que me acompanhariam no não-pensar. Você então pediria pra eu pensar um pouco mais e tentar não esquecer que existimos um dia. Você tentaria me afastar das "outras presenças".
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Eu poderia ter passado o dia todo pensando em você, mas resolvi ir ao cinema, assistir a um filme bem underground, daqueles de que você sai, vive a vida inteira e nunca consegue compreender por inteiro.
Mas... falta você me faz.
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terça-feira, junho 14, 2005

A dor

Apontou para ela a colher do brigadeiro e disse, com a voz ríspida e bêbeda: “se você passar por essa porta, não precisa mais voltar”. Ouviu com certo pesar a tal porta bater forte à sua frente. O barulho dos passos foi diminuindo até sumir por completo.
Engoliu o brigadeiro e sentiu o doce cortante descer-lhe a garganta.
Nem pensou mais nela... ruim mesmo foi a dor de barriga que teve logo depois, combinada com a ressaca.

“Pega a palavra, pega e come. Não interessa se algum nome possa te dar indigestão.” (Gilberto M. Teles / Pedro Luís)

domingo, junho 12, 2005

O 12 de junho

Como se não bastasse ser domingo, hoje ainda é o dia dos namorados! Duplamente deprimente.
E ainda tive toda uma semana de expectativa por esse fatídico dia. Todos os meus comprometidos amigos (que não são poucos) vieram me pedir sugestões de presente para seus respectivos namorados. Em cada esquina da cidade tinha uma pessoa vendendo botões de rosa a um real cada. E todos os comerciais publicitários fazem alusão ao dia dos apaixonados... Nem vou me dar ao trabalho de comentar as promoções para casais em bares, restaurantes e afins.

Desci pra comprar mais NESCAU antes do almoço. Hoje vou me afogar em brigadeiro e Almodóvar.
Duplamente deprimente.
Ao menos o dia não está frio.

Ah, o amor...

quinta-feira, junho 09, 2005

Vidas em poemas

Noutro dia, um amigo meu disse: “eu me sinto num poema do Vinícius de Moraes”. Sim, seria lindo se não fosse trágico.
Mas eu penso que poderia ser pior. A poesia de Vinícius tem um certo ar de otimismo, de que tudo vai dar certo...
E fui atrás de um poema que me deixasse por hoje estampado.

Ele na esperança, eu na saudade.
Ele pro futuro, eu pro passado.
Ele por Vinícius, eu por Bandeira.
No presente, a dádiva de podermos contar um com o outro e rir de outras (tantas) desgraças dessa vida.


O verbo no infinito (Vinícius de Moraes)

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...


Tema e variações (Manuel Bandeira)

Sonhei ter sonhado
Que havia sonhado.

Em sonho lembrei-me
De um sonho passado:
O de ter sonhado
Que estava sonhando.

Sonhei ter sonhado...
Ter sonhado o quê?
Que havia sonhado
Estar com você.
Estar? Ter estado.
Que é tempo passado.

Um sonho presente
Um dia sonhei.
Chorei de repente
Pois vi, despertado,
Que tinha sonhado.

Olha só!

Não deu pra resistir.
Saudades da minha cidade...

Rua da Aurora, Recife

segunda-feira, junho 06, 2005

Sem dom

Uma das coisas de que eu mais me arrependo de não ter me empenhado em aprender é música. Não que eu tivesse o dom. Muito pelo contrário, acho que é o dom que falta em mim. E talvez por isso eu tenha desistido tão facilmente de conhecer a fundo o mundo musical... contentei-me em saber arranhar uma ou outra musiquinha de fim-de-tarde no violão e admirar, boquiaberto, os que sabem captar até o tom de uma porta batendo.
É uma pena mesmo. Queria ter nascido com o dom musical. Ou começado a estudar música de verdade cedo e nunca parar. Até aprender tudo na marra.
Muito me satisfaria transformar o tédio em melodia*.

* "transformar o tédio em melodia" - Cazuza e Frejat em Todo o amor que houver nesta vida.