Ninguém merece, mas resiste
C'est très facile.
Apontou para ela a colher do brigadeiro e disse, com a voz ríspida e bêbeda: “se você passar por essa porta, não precisa mais voltar”. Ouviu com certo pesar a tal porta bater forte à sua frente. O barulho dos passos foi diminuindo até sumir por completo.
Engoliu o brigadeiro e sentiu o doce cortante descer-lhe a garganta.
Nem pensou mais nela... ruim mesmo foi a dor de barriga que teve logo depois, combinada com a ressaca.
“Pega a palavra, pega e come. Não interessa se algum nome possa te dar indigestão.” (Gilberto M. Teles / Pedro Luís)
Noutro dia, um amigo meu disse: “eu me sinto num poema do Vinícius de Moraes”. Sim, seria lindo se não fosse trágico.
Mas eu penso que poderia ser pior. A poesia de Vinícius tem um certo ar de otimismo, de que tudo vai dar certo...
E fui atrás de um poema que me deixasse por hoje estampado.
Ele na esperança, eu na saudade.
Ele pro futuro, eu pro passado.
Ele por Vinícius, eu por Bandeira.
No presente, a dádiva de podermos contar um com o outro e rir de outras (tantas) desgraças dessa vida.