sábado, maio 28, 2005

Maio

"maio já está no final
o que somos nós, afinal
se já não nos vemos mais?
estamos longe demais
longe demais

maio já está no final
é hora de se mover
pra viver mil vezes mais
esqueça os meses

esqueça os seus finais
esqueça os finais."

terça-feira, maio 24, 2005

Quando te arrependeres...

Depois não vem me dizer que sofreste – eu vi vários sorrisos desabrocharem em teus lábios.
Não vem dizer que nunca me deixaste de amar, que vi teus lábios satisfeitos em outros.
Vem, sim, dizer que há muito acabou, há tempos morreu, há tanto foi esquecido. Em mim ficou tudo guardado, com o amargo gosto da saudade.
Hei de encontrar quem me faça feliz. Alguém que me traga a felicidade sincera e eterna, para que, dos meus sorrisos, tenhas tu inveja. Para que, dos meus beijos, tenhas tu saudade e, dos meus braços, queiras abraços.
Terás então meus beijos e abraços. Mas nunca, não por outra vez, o amor que nos fez.
Construímo-nos e destruímos tudo.
De nós, nada fica.


“E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente."
(Destruição, Carlos Drummond de Andrade)

A vida de Charlotte

Nasceu branquinha, com uns olhos azuis e um nome forte.
Cresceu rápido, brincando de boneca e correndo pelo bosque arborizado.
Apaixonou-se cedo, pelo mais belo de todos, pelo mais cruel também.
Envelheceu no fim da vida, com vária mágoa, várias lágrimas.
Morreu velha, apaixonada, vendo as árvores do bosque com seus olhos azuis... decepcionada com o amor.
Mas tinha ainda o mesmo nome forte para ser escrito no túmulo.

sábado, maio 21, 2005

Caras, bocas e dinheiros

Num bar novinho em folha, em pleno mês de fevereiro, ouvindo tocar uma inesperada orquestra, não sei por quê, começamos uma discussão inusitada, cuja pauta era, em suma: Qual é a da revista Caras?
Os debatedores eram três: uma dona de salão de beleza (portanto, assinante da revista - consideremos ser esse o real motivo da assinatura), uma musicista e um aspirante a, sei lá, cineasta. Todos estudantes de comunicação - o que dá à discussão um caráter pouco menos fútil do que pareceria a princípio.

A verdade é que nunca entendemos o processo de escolha das chamadas reportagens dessa tradicional revista brasileira. Três foram os exemplos que conseguimos imaginar:
1- Vera Loyola abre um enorme sorriso no quintal da sua casa, com a cachorrinha (como é mesmo o nome dela?) em seus braços. A legenda: "Vera prepara [nome da cadela] para levá-la ao veterinário, uma semana antes da sua (da cachorra) festança de aniversário".
2- Fernanda Souza (ela mesma) sossega na Ilha de Caras; tem em seus braços não um cão, mas um EcoSport. Entre aspas: "Eu adoro dirigir".
3- Roberto Carlos faz um show em homenagem à falecida esposa, Maria Rita. "O Rei emociona a platéia com as canções de amor e dedicação a Maria Rita."

São bem notáveis (pra não dizer óbvias) as diferença entre as três reportagens...
Concluímos, depois de algum tempo, que D. Vera pagou pra aparecer na revista. Fernanda Souza, por um fim de semana num lugar paradisíaco (e, talvez, para divulgar algum trabalho seu), teve que ceder ao poder publicitário, abraçando-se com um Ford e sorrindo de orelha a orelha. Já o rei, não por ser rei, mas por ser quem é, se muito, tomou conhecimento das fotos antes de serem divulgadas.
E as perguntas vêm: se niguém é melhor que ninguém, quem vai decidir o valor de exposição de outrem? Por que uns pagam, uns vendem-se e outros sequer têm o direito de não aparecer? De onde veio tanto poder?
Conclusão: nada é tão cruel quanto o mundo da mídia. Só quem o faz assim. Ou quem assim o quer.
Frustração total para três estudantes de comunicação. E um inquietante desejo de mudar um pouco esse mundinho ridículo.

quarta-feira, maio 18, 2005

Noite só

Os pés descalços afundando na areia constantemente molhada pela água salgada... e nada, ninguém mais.
Os cabelos se assanhavam ao vento noturno e frio.
O reflexo da luz da gorda lua no mar azul-escuro dava à noite um tom quase lírico, apaixonado. Fazia seu coração acelerar um pouco mais.
Quisera ela estar apaixonada. Quisera poder ter seu grande amor e entregar-se à eterna e ardente paixão.
A noite, mesmo solitária, seria ainda mais bonita.

Não lhe ardia o fogo porque sabia a dor que o acompanhava. Assim, escapavam-se-lhe a beleza e a felicidade dos quase intermináveis dias.

sábado, maio 14, 2005

Bem, olha bem

Abre os olhos, vê que eu não mudei. Ainda sou eu. O mesmo de ontem, o mesmo de sempre.
Segura minha mão, toca nela e percebe que não há diferença... são os mesmos dedos, as mesmas linhas, os mesmos calos.
Levanta e me vem abraçar. Sente que meus braços têm ainda a mesma força, meus cabelos, o mesmo cheiro, minhas lágrimas, a mesma cor.
Por que tanta distância, tanto receio?
O que é esse silêncio que consome o quarto?
Se nada mudou (não, nada mudou), de onde vem esse ar? Por que já não somos tão naturais? Não há mais conforto nem há mais lugar...
Foram-se os ombros; ficaram as lágrimas desamparadas.

“Éramos nós, estreitos nós. Enquanto tu és laço frouxo.
Tira as mãos de mim. Põe as mãos em mim.
E vê se a febre dele, guardada em mim, te contagia um pouco.”
(Chico Buarque)

quarta-feira, maio 11, 2005

Das decepções

Acontece de vez em quando. Nos decepcionamos com alguém em quem confiamos plenamente. A quem contamos tudo aquilo que sentimos; com quem dividimos momentos que pareciam de uma sincera felicidade ou de uma companhia altruísta; por quem colocávamos a mão no fogo, a qualquer momento.
Acontece com todo mundo. A mão um dia queima. Mas a cicatriz parece nunca se apagar, lembrando-nos de toda a confiança jogada fora, de todo o tempo perdido, de todas as mentiras escondidas à penumbra da amizade. E a amizade se torna algo tão impossível que nem parece ter sido um dia verdadeira.
Acontece assim, quase sem se perceber, parecendo mentira. E dói mais à medida que vamos tomando conta da gravidade das coisas.
Um equívoco.
Devíamos considerar a decepção uma sorte. Porque aprendemos, se nos levantamos, com os erros e frustrações. Porque, concretamente, acabamos nos livrando de alguém que nunca mereceu nossa atenção e bondade.
Sim, a cicatriz um dia some.

Não fica assim, que tem gente muito melhor no mundo com quem dividir os momentos. Tem muita gente por aí que a ama de verdade e sabe apreciar sua verdadeira e infinita beleza.

domingo, maio 08, 2005

Mãe

Se ao menos as palavras pudessem ser abraços como os meus braços gostariam...
Se ao menos pudessem ser lábios que a beijassem todo o dia...
muito mais sentido escrevê-las faria.

Deixo o amor falar por si só, envolvendo-a calorosamente, com a doce saudade de um filho.

quinta-feira, maio 05, 2005

"Também pernambucano"

Para expor minha indignação com uma certa reportagem no Jornal da Globo de agora há pouco.
Dizia que o prefeito de Moreno - PE, por acaso, meu ex-professor de literatura (do qual muito gosto, aliás), estava sendo acusado de nepotismo por empregar 18 parentes seus em cargos municipais diversos.
Até aí tudo bem... Que Edvard errou, vá lá, mas o apresentador do jornal compará-lo, no fim da reportagem, ao presidente da Câmara, o "também pernambucano" Severino Cavalcanti, é manipulação demais... Minto. Manipulação e preconceito demais foi essa infeliz ênfase na coincidente pernambucanidade de ambos os políticos. Como se não houvesse políticos corruptos pelo Brasil afora. Ou, pior, como se todo pernambucano fosse mal-amado.
Seria bom se fôssemos ruins, mesmo... E nos juntássemos pra dar um pau nesse bando de preconceituosos metidos a bestas.
Vamos deixar de hipocrisia, que tal? Brasil não precisa de mais disso.

* Quase nem me incomoda o fato de terem falado assim de Pernambuco. Muito mais me enoja ver um jornalista manipular tão sacanamente uma reportagem de repercussão nacional, estimulando (provavelmente, sem querer) um preconceito infundado...
Antes tivesse ficado caladinho, ou dando boa noite aos espectadores.

Andar, andar

Continuou a andar, fingindo que sabia o caminho certo. Ou que, pelo menos, sabia algum caminho.
Parou num bar de esquina para tomar café. Bonito ali... iluminado, bem freqüentado, nem parecia um bar de esquina. Um real depois, com os bolsos vazios, voltou à calçada, determinado a chegar lá, fosse como fosse.
A rua estava movimentada do trânsito das seis e meia. Tinha que esperar o semáforo fechar para atravessar... Olhava impacientemente o cronômetro chegar ao 01. A luz vermelha acende e, antes que chegue ao outro lado, leva um empurrão de ombro que o derruba na faixa de pedestres.
O tempo parou num instante. Notou que muitos ali o viram, mas tanta pressa tinham em seus caminhos, que pouco lhes importavam uma pessoa a mais, deitada na faixa de pedestres. Lembrou que em pouco tempo o fluxo de carros voltaria ao normal e que seria patético atrapalhar o trânsito das seis e trinta e dois.
Levantou-se e alcançou o outro lado, deixando os óculos no meio da rua. Sentiu o tornozelo doer e admitiu a si mesmo que estava perdido. Não, não sabia como chegar lá.
Olhou para os lados. Direita, esquerda...
Olha para a esquina que acabara de deixar, e não reconhece nada por ali. Senta no meio-fio, encolhendo os joelhos para não baterem nos carros e percebe que nem lembra de onde veio...
Estava ali, no meio da rua, esquecido, ridículo, sem origem nem destino. Quem passasse por ele diria que era um mendigo, bêbado, sem-teto... Agora era. Perdido, solitário, com dor no tornozelo, míope e ridículo como estava, era um mendigo.
Nunca chegou lá e ninguém mais teve notícias dele.

terça-feira, maio 03, 2005

Preto com bolinhas brancas

Tenho sofrido com as determinações de um certo dermatologista. Sempre achei que os dermatologistas não tivessem solução pra nada. Espinha? Depois melhora. Quelóide? Não tem jeito, tira o piercing. Queda de cabelo? Acalme-se, é estresse.
Acontece que, para o meu problema, arranjaram solução. Pano branco? Ah, use esse xampu, tome esses comprimidos, não se atreva a usar condicionador, não leve sol, não tome banho quente...
Pô!
Com a história da praia eu nem me incomodei, juro. Porque está fazendo frio. Mas, por isso mesmo, eu preciso tomar banho quente. Afinal, acho chuveiro elétrico a segunda melhor invenção do mundo – e dela sou totalmente dependente.
E, pra completar, porque meus amigos são tão viciados em praia quanto eu, ando sendo convidado para um programinha assim, com esse tempo, mesmo. Tentam me convencer de que vale a pena, mesmo tendo que tirar essas manchinhas da minha pele – eu fico protegido do “sol”. Assim dificulta.

Eu mereço, não?

domingo, maio 01, 2005

Não mais

Não medir o amor que ficou
Não contar o tempo que os separa,
Nem saber a saudade que ainda os une

Não lembrar dos velhos sonhos,
Dos sorrisos sem pudor
Ou dos carinhos sem favor

Apenas saber quem foram
(Não o que virão a ser)
Fica o breve e eterno lembrar
De um doce, leve tocar

No sal de cada lágrima, uma pitada de amor.