Maio
o que somos nós, afinal
se já não nos vemos mais?
estamos longe demais
longe demais
maio já está no final
é hora de se mover
pra viver mil vezes mais
esqueça os meses
esqueça os seus finais
esqueça os finais."
Continuou a andar, fingindo que sabia o caminho certo. Ou que, pelo menos, sabia algum caminho.
Parou num bar de esquina para tomar café. Bonito ali... iluminado, bem freqüentado, nem parecia um bar de esquina. Um real depois, com os bolsos vazios, voltou à calçada, determinado a chegar lá, fosse como fosse.
A rua estava movimentada do trânsito das seis e meia. Tinha que esperar o semáforo fechar para atravessar... Olhava impacientemente o cronômetro chegar ao 01. A luz vermelha acende e, antes que chegue ao outro lado, leva um empurrão de ombro que o derruba na faixa de pedestres.
O tempo parou num instante. Notou que muitos ali o viram, mas tanta pressa tinham em seus caminhos, que pouco lhes importavam uma pessoa a mais, deitada na faixa de pedestres. Lembrou que em pouco tempo o fluxo de carros voltaria ao normal e que seria patético atrapalhar o trânsito das seis e trinta e dois.
Levantou-se e alcançou o outro lado, deixando os óculos no meio da rua. Sentiu o tornozelo doer e admitiu a si mesmo que estava perdido. Não, não sabia como chegar lá.
Olhou para os lados. Direita, esquerda...
Olha para a esquina que acabara de deixar, e não reconhece nada por ali. Senta no meio-fio, encolhendo os joelhos para não baterem nos carros e percebe que nem lembra de onde veio...
Estava ali, no meio da rua, esquecido, ridículo, sem origem nem destino. Quem passasse por ele diria que era um mendigo, bêbado, sem-teto... Agora era. Perdido, solitário, com dor no tornozelo, míope e ridículo como estava, era um mendigo.
Nunca chegou lá e ninguém mais teve notícias dele.