Eu escrevo com lápis HB
Acho que meus cabelos brancos estão começando a cair.
E eu que pensei, idiota, que a velhice já se tinha impresso no meu corpo ao descolorir meus pêlos. Tão cruelmente. As cãs caem. Caem, e levam, cada, um mês da minha memória ralo abaixo. A escorrer pelo cano, a descer com água ensaboada de dor.
Meu joelho esquerdo já não gosta de sentar.
E eu que pensei, estúpido, que o direito não andar mais como antes era o fim dos meus dias. Estúpido. Meus dias são cada dia mais infinitos. E os anos, cada ano, mais momentâneos. Todo ano eu rasgo um pedaço de papel pra escrever as mudanças que ocorreram – em mim, não no mundo. Eu escrevo a lápis.
Foi o que disse alguma amiga, décadas atrás, quando apenas uma dúzia de cãs enfeitava meu couro preto e denso.
Mas este ano, hoje, mal consigo segurar o lápis. Mal consigo pressionar o grafite contra o pedaço de papel que rasguei daquele caderno velho que começara a mofar.
Eu não leio, tampouco, o que tento escrever.
E eu que pensei, inocente, que minha caligrafia piorava por preguiça e falta de prática. São meus dedos. Os dedos de artrite com os quais ajeitei meus cabelos, e outros também. São três joelhos em cada dedo. Cinco dedos em cada mão. Direita. Esquerda. E eu que pensei que um joelho era desgraça bastante – pouco pude ver e saber de tão distante.
E eu que pensei, ignorante, que a miopia fosse me deixar antes de eu deixar o mundo. Mas os anos são breves e os dias, eternos. Meus olhos sofrem para ler o que eu escrevo a lápis. HB.
E eu que pensei, idiota, que a velhice já se tinha impresso no meu corpo ao descolorir meus pêlos. Tão cruelmente. As cãs caem. Caem, e levam, cada, um mês da minha memória ralo abaixo. A escorrer pelo cano, a descer com água ensaboada de dor.
Meu joelho esquerdo já não gosta de sentar.
E eu que pensei, estúpido, que o direito não andar mais como antes era o fim dos meus dias. Estúpido. Meus dias são cada dia mais infinitos. E os anos, cada ano, mais momentâneos. Todo ano eu rasgo um pedaço de papel pra escrever as mudanças que ocorreram – em mim, não no mundo. Eu escrevo a lápis.
Foi o que disse alguma amiga, décadas atrás, quando apenas uma dúzia de cãs enfeitava meu couro preto e denso.
Mas este ano, hoje, mal consigo segurar o lápis. Mal consigo pressionar o grafite contra o pedaço de papel que rasguei daquele caderno velho que começara a mofar.
Eu não leio, tampouco, o que tento escrever.
E eu que pensei, inocente, que minha caligrafia piorava por preguiça e falta de prática. São meus dedos. Os dedos de artrite com os quais ajeitei meus cabelos, e outros também. São três joelhos em cada dedo. Cinco dedos em cada mão. Direita. Esquerda. E eu que pensei que um joelho era desgraça bastante – pouco pude ver e saber de tão distante.
E eu que pensei, ignorante, que a miopia fosse me deixar antes de eu deixar o mundo. Mas os anos são breves e os dias, eternos. Meus olhos sofrem para ler o que eu escrevo a lápis. HB.