quarta-feira, janeiro 10, 2007

Ricardo

Era noite e Ricardo não hesitara em continuar andando. De cabeça erguida, pisava forte e decididamente em direção ao mar, iluminado apenas pela luz da lua.
Quando a primeira onda molhou-lhe os pés, um calafrio percorreu seu corpo, fazendo-o sentir-se ainda mais solitário... Enterrou então o dedão na areia, apreciando o único momento de dúvida que tivera.
Quando a brisa ficou mais intensa e fria, ele deu o primeiro passo água adentro. Molhou joelhos, umbigo, ombros e nariz. E continuou a entrar no mar, sentindo o frio tomar conta de todo o seu ser.
Mas ele não queria ser. Ricardo se afogou depois de muito tempo, porque ninguém o vira no mar e ninguém o viera salvar. No dia seguinte, seu corpo foi encontrado na areia por três crianças e um labrador. O cão cheirou o corpo enquanto os meninos discutiam o acontecido. O mais novo se aproximou e tocou o rosto de Ricardo, olhando para os outros com um sorriso sincero.
“Agora a gente pode pular o muro à vontade.”