Peixinho solitário
Ainda assim, a paz imperava no aquário, porque o peixinho solitário era peixe gente-fina.
Era ela quem apagava a luz do quarto todas as noites. O marido sempre estava à sua espera, deitado, com o cotrole remoto na mão. No quarto semi-escuro, à luz da televisão ligada, ela se deitava ao seu lado para tentar dormir. Só o conseguia quando a tevê era finalmente desligada, dando o incessante barulho lugar à completa escuridão.
Naquela noite, porém, não apagou a luz. A tevê estava desligada quando entrou no quarto. Não havia marido nem controle na cama. Aflita, deitou-se sem se cobrir e adormeceu sem se virar. A luz a incomodava mais ainda que a tevê antes ligada. Falou um boa-noite sôfrego a si mesma e dormiu o cansaço daquele terrível dia.