segunda-feira, novembro 28, 2005

Shhh!

Shhh, ela disse.
E ele, com os olhos arregalados, ficou bem caladinho, pra que ninguém os encontrasse.
Não tinham, juntos, mais que vinte anos. Estavam ali, embaixo da mesa, escondendo-se dos adultos, à procura de um pouco de privacidade.
Ele estremeceu todo quando sentiu a mão dela tocar a sua. Soltou um reprimido grunhido de felicidade, ao que ela retribuiu, mais um vez, Shhh!
Assustado, tentou se concentrar exclusivamente em não fazer barulho e entregar a escondida privacidade para os adultos dali. Perguntou a ela num sussuro o que fariam depois, se conseguissem, claro estava, sair debaixo da mesa sem serem percebidos. Como se encontrariam novamente, se se encontrariam alguma vez mais.
Ela olhou fundo nos olhos dele, ainda reprimindo-o pelo quase inaudível barulho que fazia ao falar, e disse:
- Saindo daqui, vai cada um pra sua casa e pronto.
Num reflexo, tirou a mão debaixo da dela e bateu a cabeça na tábua da mesa, irritando-a ainda mais. Seu coração parecia saltar-lhe à boca, quando encostou-a à orelha dela. Ouviu a respiração dela ficando mais pesada, à espera de uma palavra doce, ou um beijo, e falou bem claramente, antes de sair:
- Até nunca mais, então.

1 Comments:

Blogger Higgo said...

Bruno, que historinha triste para duas criancinhas. traumatizante, até...
xeu limpar minhas lágrimas aqui.

3/12/05 11:45  

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