A avó batia o bolo de chocolate na bacia, tentando prestar atenção às notícias do jornal televisivo.
Na mesma sala, entre a tevê e a massa de bolo, conversavam alegremente dois primos e uma tia. A conversa estava pra lá de interessante, mesmo não estando a avó interessada em ouvi-la.
E a massa do bolo remexia cada vez mais rápido, proporcionalmente à crescente excitação do inusitado papo.
Blosh, blosh, blosh, fazia a bacia. Blá, blá, blá, blá, blá, zzz, zzz, zzz, zzz, zzz ecoavam pela sala. E o barulho foi ficando grande demais, estridente demais, barulhento demais.
A avó então olhou para aquela pequena parte de sua grande família, meio irritada, meio cansada de tentar ouvir o noticiário. Com a colher que batia a massa, mostrou ameaçadoramente a porta da rua, salpicando bolo em cada um dos converseiros:
“Por quê vocês não vão lá pra fora?”
E a frase foi dita num ritmo tão inesperado, quase cantado e acompanhado pela colher de pau, que não sobrou converseiro dentro da sala.